A Caminho do Visionismo 1985/90

Tela branca: Enrolada. Madeira leve, bem seca. Esticador.  Monto a grade, agrafo o linho. Já rufa; parece um tambor. Olho-a de perfil: não quero foles camuflados na imensidão do branco. Cheiro-a deliciosamente, avidamente e percorro-a com a ponta dos dedos.

Tomo-lhe a dimensão, de olhos fechados: abraço-a. Deito-a no chão com a excitação dum amante.  Agarro nos tubos de óleo das cores que me estão a incendiar o coração e espremo-os com volúpia para um frasco onde lhes junto as essências seminais indispensáveis à concepção e fecundo-a com um gesto viril, orgásmico, natural, espontâneo. As várias cores espalham-se em convulsões espasmódicas. Purifico tudo com água e afasto-me um pouco, ofegante. Despeço-me relutante e espero algumas horas/dias até que o acto seque e ganhe consistência.

Volto com tantas saudades que quero experimentar logo várias posições: giro a tela no cavalete. Para cima, para baixo e de lado.

Procuro não sei o quê. De repente vejo! Lá está, bem no meio de tudo, camuflado por percursos enganadores de cores fronteiriças.

Descobri o tema do meu novo quadro! Descobri-lhe o desenho!
Agora há que isolá-lo, integrá-lo.Agarro nos pincéis e acaricio-lhe os contornos. Desenvolvo o tema até que cresça: já fala.
Levo-o à escola dos velhos Mestres e escondo-o dos perigos tentadores das modas fáceis que há pelo caminho. Dou-lhe um nome e espero que se case. Se for preciso exponho-o.
É isto o VISIONISMO.

As Obras

pt_PTPortuguese