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A Metafísica na Arte

Critica de Nathalie Becker, Luxemburgo 2007

Superiormente acabada com uma patina exemplar e duma iconografia com  uma profundidade surpreendente, assim é a pintura de Luís Vieira-Baptista,  artista português de renome internacional cujas criações podem ser vistas  presentemente na Galeria Rectoverso. 

O homem é altivo, duma elegância refinada, a sua forma de estar denota  uma rica desenvoltura pessoal e uma bela harmonia interior. A vida é para  ele um bem precioso, um tesouro que venera a cada dia que passa e que  honra na sua pintura. Ele, o bebé que sufocou à nascença por causa do  cordão umbilical e que sobreviveu ao caso, aproveita ao máximo a beleza da  existência com avidez e reconhecimento. 

Assim, as suas criações são convites a uma viagem interior e levam o  espectador à sua própria introspecção. De temperamento frontal e anti conformista, Luís Vieira-Baptista não se podia contentar de estar contra corrente e como se lhe impôs um vocabulário plástico fogoso, decidiu, por  isso, criar o seu próprio estilo no final dos anos oitenta, o seu movimento  pessoal que baptizou de “Visionismo”. 

Sim, Vieira-Baptista é bem visionário e visionista. O seu mundo interior é  fixado na tela por um traço seguro, uma paleta rica, um iluminismo estudado  e com visões oníricas, fantasmagóricas e metafísicas.

Levantar o véu

As civilizações antigas, os rituais esquecidos, as personagens lendárias e  bíblicas, os heróis mitológicos, a mulher em todo o seu esplendor sensual do  seu charme, os elementos naturais e a vida aparecem-nos nas suas  composições teatralizadas por efeitos de “trompe-l’oeil” e de  enquadramentos telúricos. 

 A água, o caldo original onde a vida germina está omnipresente, assim como  as forças telúricas e magmática. A areia do deserto reenvia-nos a alguns  ermos solitários e ascéticos enquanto que os corpos muitas vezes relegados  a fragmentos como se de mutilação de esculturas antigas se tratassem,  evocam a força do amor e suas pulsações. Para alem disso há também uma  forma oval que se torna recorrente. Um ovo, uma matriz, um escudo  protector duma vida frágil e inocente marcam a sua atracão pela criação. 

A filosofia e as religiões encontram também um eco particular no seu  trabalho, como na série onde o pintor evoca a figura iniciática de Hermes  Trismegisto, aquele que deverá ter vivido três vidas e que estará na origem  do hermetismo, doutrina filosófica-religiosa onde se ancoram as crenças  astrológicas e alquímicas.  

Antes de mais, o próprio pintor é ele mesmo um verdadeiro alquimista pois  metamorfoseia simples elementos figurativos, sacralizando-os e  proporcionando-lhes uma grande aura espiritual. As suas criações não se  despegam facilmente do espectador. Elas convidam o nosso olhar a procurar,  a levantar o véu da obra bem conseguida, a penetra-la de modo a lê-la  melhor e com isso a enriquecer-nos. 

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